Literatura Americana · Livros

{Resenha} The Flowers, Alice Walker #contoeminglês

“She felt light and good in the warm sun. She was ten, and nothing existed for her but her song, the stick clutched in her dark brown hand, and the tat-de-ta-ta-ta of accompaniment.” Walker, Alice. (The Complete Stories ,p. 106). Edição do Kindle.

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Saiba mais sobre o livro aqui.

Alice Walker (1944-) é uma escritora norte americana, pouco conhecida no Brasil, mas sua obra já foi vencedora de vários prêmios como National Book Award e Prêmio Pullitzer. Seu livro mais conhecido é a Cor Púrpura, seguido também de uma adaptação cinematográfica.

Meu primeiro contato com a autora foi na faculdade de Letras. Depois de alguns anos, descobri seus outros escritos, dentre eles, os contos que são de uma sensibilidade ímpar.

O conto The flowers (As flores), sem tradução para o português, publicado no livro In Love and Trouble: Stories of Black Women (1973), narra a história de uma menina chamada Myop, que vive em uma fazenda com os seus pais. O conto inicia com a descrição desse espaço rural, e o narrador ao enfatizar a sua idade de dez anos, sugere que personagem é feliz naquele lugar.

Ao seu redor, Myop está cercada por uma floresta com rio, samambaias e flores silvestres. A personagem resolve naquele mesmo dia se aventurar em um passeio um pouco mais longe do seu lar e é notável a mudança de atmosfera que acontece na narrativa quando Myop, ao meio- dia, está rodeada por um ambiente úmido e silencioso:

[…] she was a mile or more from home. She had often been as far before, but the strangeness of the land made it not as pleasant as her usual haunts. It seemed gloomy in the little cove in which she found herself. The air was damp, the silence close and deep.

Walker, Alice. The Complete Stories (p. 107). Orion. Edição do Kindle.

Assim que ela tem esse pressentimento, revelado pela mudança de horário e de ambiente, Myop resolve ir embora, porém ao se virar, encontra o corpo de um homem morto.

Diante dessa imagem impressionante, a personagem analisa o corpo e os detalhes daquele homem desconhecido. Uma das características mais marcantes são: os dentes brancos e quebrados, os sinais de violência. Naquele instante ela vê também uma rosa selvagem, com um anel, um laço e uma raiz apodrecida, desgastada, percebendo que toda a imagem que ela tinha antes de beleza e inocência perante a vida estava se desfazendo. O narrador encerra o conto com a seguinte frase, deixando em aberto para que o leitor preencha as lacunas dessa narrativa breve:

“And the summer was over.”

Walker, Alice. The Complete Stories (p. 108). Orion. Edição do Kindle.

Essa narrativa traz muitos elementos simbólicos. O título já sugere que as flores serão primordiais em algum momento do conto e o leitor precisa se atentar aos pequenos detalhes para descobrir as camadas que envolvem o enredo.

Ricardo Piglia, teórico, no livro Forma Breves, descreve que o conto moderno transita entre duas camadas. Uma é a história contada e explícita; a outra esconde um segredo, algo que só é detectável quando se atém aos mínimos detalhes.

Nesse conto, observa-se que o passeio de Myop pela região rural que habita é só o primeiro plano. A personagem tem apenas dez anos. Sua noção de mundo é permeada pela inocência, pela vida ao redor. Ela ainda não tinha se encontrado com a morte. Quando decide se afastar e se vê diante de uma cena aterrorizante, Myop percebe que esse homem morto traz sinais de espancamento, sendo provavelmente torturado. Nós, leitores podemos aferir que na época em que os negros viviam em “farms”, provavelmente estavam ligados a Guerra Civil Americana que foi de 1860 a 1960.

Segundo o site Study, pela descrição do personagem encontrado pode-se apontar que:

“Isso é composto pelo homem morto que Myop descobre, o que apóia ainda mais esse período de tempo. Com a descoberta do laço próximo e o fato de que todos os seus dentes foram quebrados, sugere que ele foi linchado, um ato motivado pelo racismo desenfreado.”

Com isso, a personagem percebe que o verão acabou, assim como sua inocência e descobre que o mundo na realidade é sombrio, determinando o fim da sua infância. As flores no inicio simbolizavam a vida em abundância e agora com a sua raiz podre e desgastada, representam a morte e o término de um ciclo.

Referências:

PIGLIA, Ricardo, “Teses sobre o conto”, in: Formas Breves, São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 2004, pp. 89-90.
Até a próxima!
Agnes

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